Movimento Católico de Evangelização para reavivar e desenvolver a vida cristã-batismal na perspectiva do seguimento de Jesus Cristo.
“Quem Me come viverá por Mim”
A Eucaristia faz a Igreja mediante a comunhão.
Um
filósofo ateu disse: “O homem é aquilo que come”. Pretendia dizer que no homem
não existe diferença qualitativa entre matéria e espírito, que tudo nele se
reduz à componente material. Mais uma vez, aconteceu que um ateu deu, sem
o saber, a melhor formulação aplicada a um mistério cristão. Graças à
Eucaristia, o cristão é verdadeiramente aquilo que come. “A nossa participação
no corpo e sangue de Cristo nada mais pretende senão tornar-nos naquilo que
comemos” (São Leão Magno).
“Como o
Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, assim aquele que Me come viverá
por mim” (Jo 6,57). Isto significa que quem come o corpo de Cristo vive d’Ele,
ou seja, em força da vida que provém d’Ele, e vive para Ele, para a sua glória,
para o seu amor, para o seu Reino.
Padres da
Igreja: o princípio vital mais forte assimila o que é mais fraco. Jesus diz ao
que O recebe: “Não será tu que Me assimilarás, Eu é que te assimilarei” (Sto.
Agostinho). Enquanto o alimento material
se torna aquele que o come, aqui acontece o contrário: o Pão da Vida é ele
mesmo vivo e por isso vivem aqueles que o recebem. É o pão da vida que faz
movimentar quem dele se alimenta. “Que me come viverá por Mim”.
Dizer que
Jesus Eucarístico nos assimila a si, quer dizer, concretamente, que ele torna
nossos sentimentos, desejos e pensamentos semelhantes aos seus (Fl 2,5). Como o coração no corpo, Jesus é o coração do
seu Corpo Místico. Ao coração chega de todas as partes o sangue venoso,
empobrecido de elementos vitais e cheio de tóxicos. Nos pulmões este sangue é
como que queimado com oxigênio e assim regenerado, enriquecido e restituído
pelo coração a todos os organismos. Todo sangue venoso do mundo flui para a
Missa. Na comunhão, o indivíduo lança todos os pecados e Jesus dá sangue puro,
sangue novo, “medicina de imortalidade” (Sto. Inácio de Antioquia). Por isso se
diz na Escritura: “O sangue de Cristo... purificará das obras da morte a nossa
consciência” (Hb 9,14;); “purifica-os de todo o pecado” (1Jo 1,7). A
Eucaristia é o coração da Igreja e num sentido muito mais real do que
costumamos pensar!
1. Comunhão com o corpo e o sangue de Cristo (1 Cor 10, 16)
Corpo e
sangue, biblicamente falando, quer dizer toda a vida de Cristo, sua vida e sua
morte. Corpo é a vida vivida no corpo. Na Eucaristia,corpo significa Cristo na
sua condição de servo, pobreza, cruz; que trabalhou, sofreu, rezou no meio de
nós. Sangue também é uma realidade concreta, melhor, um acontecimento concreto:
indica a morte, a morte violenta, a morte sacrifical expiatória. (Ex 24,8)
Ao
comungarmos, portanto, o corpo e o sangue de Cristo, revivemos e partilhamos
toda a sua experiência de vida. Unimos o hoje da nossa vida, os momentos
felizes ou tristes que também passamos, aos momentos que Jesus viveu. Tudo isso
não por uma ficção mental, mas porque Jesus existe e está vivo na Eucaristia.
2. Quem se une ao Senhor forma um só Espírito com Ele (1Cor 6,17).
A força
da comunhão eucarística reside precisamente nisto; nela nós nos tornamos um só
espírito com Jesus e este único espírito é o Espírito Santo! No nascimento é o
Espírito que dá Jesus ao mundo. Na morte, é Jesus quem dá ao mundo o Espírito
Santo. Na consagração, o Espírito dá-nos Jesus. Na comunhão, Cristo dá-nos o
Espírito.
O
Espírito Santo é aquele que realiza a nossa intimidade com Deus (São Basílio).
O Espírito Santo é a “nossa própria comunhão com Cristo” (Sto. Irineu).
Na
comunhão Jesus dá agora o Espírito Santo. Deste modo Jesus torna-nos
participantes da sua unção espiritual. Ao redor da mesa eucarística realiza-se
a “embriaguez sóbria do Espírito”.
O efeito
da embriaguez é sempre fazer o homem sair de si mesmo. Na embriaguez material
(vinho, droga) o homem sai de si para abaixo da razão, para o nível animal...
Na embriaguez espiritual sai para viver acima da própria razão, para o
horizonte de Deus. Cada comunhão deveria terminar num êxtase (não tanto no
sentido dos fenômenos místicos extraordinários, mas no sentido paulino de “já
não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”).
Eucaristia
é o sacramento do amor (Sto. Tomás de Aquino). O amor é a única realidade,
graças à qual dois seres vivos distintos podem unir-se para formar uma só
coisa. O Espírito é chamado a própria comunhão com Cristo por que Ele é o
próprio Amor de Deus. Eu comungo plena e definitivamente com Cristo que
comungou comigo, somente quando consigo dizer-lhe, com simplicidade e
sinceridade de coração, como Pedro: “Senhor, Tu sabes que eu te amo!” (Jo 21,
16).
3. “Eu neles e Tu em Mim”: a comunhão com o Pai
Mediante
Jesus e o seu Espírito, na comunhão eucarística nós alcançamos também o Pai. Os
Três são inseparáveis. Devido à pericorese (É o inter-relacionamento eterno que existe
entre os três divinos: Pai, Filho e Espírito Santo. Cada pessoa vive da outra,
com a outra, pela outra e para a outra. É uma comunidade unida, de amor, de
ação) das Pessoas divinas, em cada uma estão presentes também as outras duas.
A Trindade toda está na Eucaristia!
Entramos,
portanto, numa comunhão misteriosa, mas profunda, com a Trindade inteira: com o
Pai, mediante Jesus Cristo, no Espírito Santo.
4. Deus colocou o seu corpo nas nossas mãos
Que
fazemos nós com o Corpo de Cristo? Muitas vezes estamos até distraídos, e isto
é usar de violência para com Ele.
“A
Humanidade estremeça, o Universo inteiro trema e o Céu exulte quando, sobre o
altar, nas mãos do sacerdote, está o Cristo Filho de Deus vivo. Vede, irmãos, a
humildade de Deus e abri-lhe os vossos corações; humilhai-vos também vós, para
que Ele vos exalte” (S. Francisco de Assis).
Creio que
se trata de uma graça salutar para um cristão passar por um período de tempo em
que tem medo de se aproximar da comunhão... A pregação da Igreja não deveria
ter receio de usar por vezes a linguagem de Hb 12,18-24!!! Conhecemos o aviso
que ressoava no cristianismo primitivo, no momento da comunhão: “Quem é santo
aproxime-se, quem não o é arrependa-se!” (Didaqué 10).
São João
Crisóstomo, tendo de lidar com uma população inclinada, também ela, a levar as
coisas com leviandade, não fala nunca da comunhão eucarística, que não utilize
o adjetivo ‘terrível’: “Os mistérios da Igreja são terríveis; e terrível é o
altar!” (S. João Crisóstomo); “Terrível e inefável é a comunhão dos santos
mistérios” (S. João Crisóstomo).
5. A comunhão com o corpo de Cristo que é a Igreja
Na
Eucaristia realiza-se também uma comunhão horizontal, ou seja, com os
irmãos. 1Cor 10,16-17: comunhão com corpo de Cristo, mas fala também de corpo
místico, que é a Igreja.
Os
primeiros cristãos sentiam-se unidos na fração do pão (At 2,42). Não se pode
ter um pão se os grãos de trigo não são moídos... Para sermos o corpo místico
de Cristo, também temos que ser moídos. E nada melhor para nos moer do que a
caridade fraterna, especialmente pra quem vive em comunidade: suportarem-se uns
aos outros apesar das diferenças de caracteres, de pontos de vista , etc.
É nos
dito na Missa: “O corpo de Cristo”. E nós dizemos: Amém! Dizemos amém ao corpo
santo de Jesus nascido da Virgem, mas também ao corpo místico que é a Igreja,
que são concretamente, os irmãos que estão a nossa volta, na vida ou na mesa
eucarística. Não podemos separar os dois corpos, e aceitar um e rejeitar o
outro.
Não nos
custará muito dizer amém aos irmãos, talvez à maioria, mas sempre haverá um que
nos faz sofrer, por culpa dele ou nossa. Dizer amém neste caso é mais difícil,
mas esconde uma graça especial. Quando queremos fazer uma comunhão mais íntima
com Jesus, ou precisamos de um perdão ou uma graça especial, este é o melhor
modo de o conseguir: acolher Jesus, na comunhão, juntamente com aquele irmão.
Dizer mesmo: “Jesus, hoje recebo-vos juntamente com o fulano... hospedo-o juntamente
contigo no meu coração, fico feliz se Vós o trazeis convosco.” Este pequeno
gesto agrada muito a Jesus, porque Ele sabe que, para o fazermos, devemos
morrer um pouco.
A
Eucaristia, nossa santificação. Cantalamessa, Raniero. Paulus, São Paulo, 2005,
cap. III, pp.37-54 - Resumido por Pe. Marcos Oliveira