Quando Deus e a medicina não curam, o homem é tentado a virar as costas para Ele, como se Ele não existisse ou não ligasse para nós. Por isso trouxemos este assunto à tona, para termos um justo equilíbrio espiritual nos momentos dolorosos da nossa vida.
Deus
sempre perdoa a culpa do pecado quando há arrependimento e fé em Jesus
Salvador, mas nem sempre cura as consequências do pecado que são, numa palavra,
a morte, o sofrimento, a enfermidade, pois o homem expulso do Paraíso perdeu os
dons preternaturais da impassibilidade e da imortalidade.
Deus
tem poder para curar todas doenças, porque nada lhe é impossível. Porém, a
própria experiência mostra que muitas pessoas de fé ficaram enfermas por longos
anos e morreram. Hoje elas estão na glória do céu sem muletas, sem cadeira de
rodas, sem lágrimas e sem dor, mas antes fizeram a via-crucis do sofrimento e
da morte como qualquer outra criatura sobre a face da terra.
João
Batista mandou dois discípulos perguntar a Jesus se o Reino de Deus já ia ser
estabelecido completamente com a chegada dele: “És tu aquele que há de vir, ou
devemos esperar outro?” Nessa mesma hora, Jesus curou muitas pessoas de suas
doenças, males e espíritos maus, e fez muitos cegos recuperar a vista. Depois
respondeu: “Voltem, e contem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos
recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos
ouvem, os mortos ressuscitam, e a Boa Notícia é anunciada aos pobres!” (Lc
7,18-23) Desta forma, Jesus mostrou que o Reino de Deus já tinha sido
inaugurado com a sua Presença, mas este mesmo Reino só seria plenamente
realizado nos céus, após a sua segunda vinda. As curas e libertações que ele
realizou eram sinais e antegozos do Reino de Deus. Mas só no Reino definitivo é
que já não haverá mais morte, nem luto e nem lágrimas de forma completa.
Jesus
realizou muitos milagres, mas não curou todos enfermos e nem ressuscitou todos
os mortos. São José mesmo, seu querido pai adotivo, morreu bem antes que ele e
Nossa Senhora. Fé e santidade foi o que não faltou na Sagrada Família de
Nazaré. Mesmo assim Jesus não ressuscitou seu querido José. Isto significa que Jesus
curou e continua curando, realizando sinais e prodígios do Reino de Deus, para
que as pessoas entendam que o Reino de Deus é o Reino da Vida Eterna e tenham
fé, esperança e perseverem até o fim. Mas isto ele realiza quando quer, da
forma como quer e quando é para o nosso verdadeiro bem.
Deus
é Poderoso e Soberano. Escuta a nossa súplica, mas não é mandado por nós. Tudo
concorre para o bem daqueles que o amam. Mas Ele é quem sabe os caminhos da
Divina Providência que age na história, direcionando tudo para a plena
realização do seu Reino de paz, alegria, justiça e santidade.
O
Apóstolo Paulo, um homem santo completamente comprometido com a causa do Reino de
Deus, que evangelizou no poder do Espírito Santo com muitos milagres, curas e
libertações, tinha plena consciência de que tudo aqui é passageiro, inclusive a
dor, o sofrimento e a morte, e combatia o bom combate na certeza de que haveria
de receber do Justo Juiz a coroa da vida eterna (1Tm 4,8).
Rm 8,18
Penso que os sofrimentos do momento presente não se comparam com a glória
futura que deverá ser revelada em nós. 19 A própria criação espera com
impaciência a manifestação dos filhos de Deus. 20 Entregue ao poder do nada -
não por sua própria vontade, mas por vontade daquele que a submeteu -, a
criação abriga a esperança, 21 pois ela também será liberta da escravidão da corrupção,
para participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus. 22 Sabemos que a
criação toda geme e sofre dores de parto até agora. 23 E não somente ela, mas
também nós, que possuímos os primeiros frutos do Espírito, gememos no íntimo,
esperando a adoção, a libertação para o nosso corpo. 24 Na esperança, nós já
fomos salvos. Ver o que se espera já não é esperar: como se pode esperar o que
já se vê? 28 Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o projeto dele. 29 Aqueles que Deus
antecipadamente conheceu, também os predestinou a serem conformes à imagem do
seu Filho, para que este seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aqueles
que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou
justos. E aos que tornou justos, também os glorificou. 31 O que nos resta
dizer? Se Deus está a nosso favor, quem estará contra nós? 32 Ele não poupou
seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós. Como não nos dará também todas
as coisas junto com o seu Filho? 33 Quem acusará os escolhidos de Deus? É Deus
quem torna justo! 34 Quem condenará? Jesus Cristo? Ele que morreu, ou melhor,
que ressuscitou, que está à direita de Deus e intercede por nós? 35 Quem nos
poderá separar do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a
fome, a nudez, o perigo, a espada? 36 Como diz a Escritura: “Por tua causa
somos postos à morte o dia todo, somos considerados como ovelhas destinadas ao
matadouro.” 37 Mas, em todas essas coisas somos mais do que vencedores por meio
daquele que nos amou. 38 Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os
anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes 39 nem as
forças das alturas ou das profundidades, nem qualquer outra criatura, nada nos
poderá separar do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor.
O
cume da fé é se entregar e obedecer a vontade de Deus, inclusive na hora da
enfermidade e da morte. Nesses momentos devemos rezar, adorar e nos entregarmos
à vontade de Deus, pois ela é sempre a melhor para a nossa verdadeira
felicidade. Isto gera um justo equilíbrio na nossa vida espiritual. De um lado
não nos tornamos, por demais, frios racionalistas que não erguem as mãos e
suplicam a Deus por cura e libertação, como se ele não pudesse realizar
milagres ou não olhasse para nós. Mas de outro lado também não nos culpamos
quando não somos curados, como se a falta da cura é por falta de fé. Sem este
justo equilíbrio espiritual ficamos revoltados contra Deus e abandonamos a fé
na hora da dor e da morte. Por isso estamos tocando nesse assunto com pés no
chão.
Devemos
ser humildes. Deus sabe o que faz e nós não sabemos o que dizemos. Mais uma vez
lembramos do Apóstolo Paulo. Por sua intercessão e evangelização Deus salvou,
curou e libertou milhares de pessoas. Mas ele mesmo tinha um “espinho na carne”
que lhe causava muita dor e sofrimento, ao ponto de parecer com um anjo de
Satanás para o espancar, a fim de que não inchasse de orgulho.
Por
três vezes ele pediu ao Senhor que o curasse desse “espinho na carne”. Deus,
porém, disse para ele: “Para você basta a minha graça, pois é na fraqueza que a
força manifesta todo o seu poder.” Então ele compreendeu o sentido do
sofrimento e de que nem sempre Deus cura de todas enfermidades. Passou a viver
com aquele “espinho na carne” que o ajudava a ser humilde, sem ficar se
lamentando na presença dos irmãos e menos ainda blasfemando contra Deus. E
dizia: “É por isso que eu me alegro nas fraquezas, humilhações, necessidades,
perseguições e angústias, por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é
que sou forte!” (2Cor 12,7-10)
Deus
pode tirar coisas boas até mesmo dos males que nos acontecem porque grande é o
seu poder e infinita a sua sabedoria. E mesmo quando ele não cura, ele dá a
graça de ser feliz e crescer “nas fraquezas, humilhações, necessidades,
perseguições e angústias, por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é
que sou forte!” Um fiel discípulo de Jesus me disse que começou a enxergar
depois que ficou cego e outro que passou a entender o verdadeiro sentido da
vida depois que caiu enfermo. Todos nós também temos experiência de como
crescemos e mudamos para melhor nos momentos de dificuldades e como a nossa
visão se alargou na hora das humilhações, necessidades, perseguições e
angústias. Deus sabe o que faz e a sua vontade sempre é a melhor para a nossa
verdadeira felicidade.
Acolher
a vontade de Deus implica se abandonar nas mãos de Deus com todas as nossas
preocupações, porque é ele quem cuida de nós. A espiritualidade do abandonar-se
nas mãos de Deus é necessária para viver com sentido e com paz. Depois da cruz
sempre vem a ressurreição, depois deste tempo de peregrinação todos iremos para
a glória do Reino de Deus aonde não haverá nem dor, sem sofrimento, nem luto e
nem morte.
Em
tudo isso que estamos falando não fique a ideia errada de que Deus é a fonte do
mal, de que ele goste de nos ver sofrendo ou que devamos agradecer a ele pela
desgraça, pela dor e a morte. Porém, esta é a realidade da vida, todos passamos
por momentos de dificuldades e mesmo que Deus possa tudo, ele não resolve tudo,
pois não somos fantoches em suas mãos e ele mesmo deve respeitar a nossa
liberdade e as leis da natureza. Se não for assim, ele mesmo vai contra tudo
que criou e contra o dom da nossa liberdade. Porém, o certo é que ele nos dá a
graça de irmos adiante apesar dos pesares. Sim, em Jesus todos já somos mais
que vencedores! (Rm 8,37)
Na
hora da dor e do sofrimento devemos orar a Deus por cura e libertação. Orar
mesmo, pois esta oração lhe é muito agradável. Mas quando a cura não vem,
devemos fazer o mesmo que Paulo fez e nos abandonarmos nas mãos de Deus e à sua
vontade. Repito: Deus pode tudo e Deus sabe o que faz. A sua vontade sempre é a
melhor para a nossa verdadeira felicidade. Esta é verdadeira fé cheia de
humildade e obediência. Pois os sofrimentos do momento presente não se comparam
com a glória futura que deverá ser revelada em nós. Todas as coisas concorrem
para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o projeto
dele. E nada poderá nos separar do amor de Deus revelado em Jesus Crucificado,
nem mesmo a morte!
Concluímos
com São Paulo professando a nossa fé no Deus da Vida Eterna que começa neste
mundo e se prolonga por toda eternidade:
Fl 1,19
De fato, sei que tudo isso (os sofrimentos e prisões) há de servir para a minha
salvação, através das orações de vocês e do Espírito de Jesus Cristo, que me
socorre. 20 O que desejo e espero é não fracassar, mas, agora como sempre,
manifestar com toda a coragem a glória de Cristo em meu corpo, tanto na vida,
como na morte. 21 Pois para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. 22 Mas, se
eu ainda continuar vivendo, poderei fazer algum trabalho útil. Por isso é que
não sei bem o que escolher. 23 Fico na indecisão: meu desejo é partir dessa
vida e estar com Cristo, e isso é muito melhor. 24 No entanto, por causa de
vocês, é mais necessário que eu continue a viver. 25 Convencido disso, sei que
vou ficar com vocês. Sim, vou ficar com todos vocês, para ajudá-los a progredir
e a ter alegria na fé. 26 Assim, quando eu voltar para junto de vocês, o
orgulho de vocês em Jesus Cristo irá aumentar por causa de mim.
MODP Romanos
8,18-39