3
- Reconciliação
com
Deus e a Igreja
A Igreja
continua ensinando no Catecismo:
1440. O pecado é, antes de mais,
ofensa a Deus, ruptura da comunhão com Ele. Ao mesmo tempo, é um atentado
contra a comunhão com a Igreja. É por isso que a conversão traz consigo, ao
mesmo tempo, o perdão de Deus e a reconciliação com a Igreja, o que é expresso
e realizado liturgicamente pelo sacramento da Penitência e Reconciliação.
1441. Só Deus perdoa os pecados.
Jesus, porque é Filho de Deus, diz de Si próprio: “O Filho do Homem tem na
terra o poder de perdoar os pecados” (Mc 2,10) e exerce este poder divino: “Os
teus pecados são-te perdoados!” (Mc 2,5). Mais ainda: em virtude da sua
autoridade divina, concede este poder aos homens para que o exerçam em seu
nome.
1442. Cristo quis que a sua Igreja
fosse, toda ela, na sua oração, na sua vida e na sua atividade, sinal e
instrumento do perdão e da reconciliação que Ele nos adquiriu pelo preço do seu
sangue. Entretanto, confiou o exercício do poder de absolvição ao ministério
apostólico. É este que está encarregado do “ministério da reconciliação” (2Cor
5,18). O apóstolo é enviado “em nome de Cristo” e “é o próprio Deus” que, através
dele, exorta e suplica: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20).
1443. Durante a sua vida pública.
Jesus não somente perdoou os pecados, como também manifestou o efeito desse
perdão: reintegrou os pecadores perdoados na comunidade do povo de Deus, da
qual o pecado os tinha afastado ou mesmo excluído. Sinal bem claro disso é o fato
de Jesus admitir os pecadores à sua mesa, e mais ainda: de se sentar à mesa
deles, gesto que exprime ao mesmo tempo, de modo desconcertante, o perdão de
Deus, e o regresso ao seio do povo de Deus.
1444. Ao tornar os Apóstolos
participantes do seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor dá-lhes
também autoridade para reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão
eclesial do seu ministério exprime-se, nomeadamente, na palavra solene de
Cristo a Simão Pedro: “Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus; tudo o que
ligares na terra ficará ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra
ficará desligado nos céus” (Mt 16,19). «Este mesmo encargo de ligar e desligar,
conferido a Pedro, foi também atribuído ao colégio dos Apóstolos unidos à sua
cabeça (Mt 18,18; 28,16-20)”.
1445. As palavras ligar e desligar
significam: aquele que vós excluirdes da vossa comunhão, ficará também excluído
da comunhão com Deus; aquele que de novo receberdes na vossa comunhão, também
Deus o acolherá na sua. A reconciliação com a Igreja é inseparável da
reconciliação com Deus.
1446. Cristo instituiu o sacramento da
Penitência para todos os membros pecadores da sua Igreja, antes de mais para
aqueles que, depois do Batismo, caíram em pecado grave e assim perderam a graça
baptismal e feriram a comunhão eclesial. É a eles que o sacramento da
Penitência oferece uma nova possibilidade de se converterem e de reencontrarem
a graça da justificação. Os Padres da Igreja apresentam este sacramento como “a
segunda tábua (de salvação), depois do naufrágio que é a perda da graça”.
1447. No decorrer dos séculos, a forma
concreta segundo a qual a Igreja exerceu este poder recebido do Senhor variou
muito. Durante os primeiros séculos, a reconciliação dos cristãos que tinham
cometido pecados particularmente graves depois do Batismo (por exemplo: a
idolatria, o homicídio ou o adultério) estava ligada a uma disciplina muito
rigorosa, segundo a qual os penitentes tinham de fazer penitência pública pelos
seus pecados, muitas vezes durante longos anos, antes de receberem a
reconciliação. A esta “ordem dos penitentes” (que apenas dizia respeito a
certos pecados graves) só raramente se era admitido e, em certas regiões,
apenas uma vez na vida. Durante o século VII, inspirados pela tradição
monástica do Oriente, os missionários irlandeses trouxeram para a Europa
continental a prática “privada” da penitência que não exigia a realização
pública e prolongada de obras de penitência, antes de receber a reconciliação
com a Igreja. O sacramento processa-se, a partir de então, dum modo mais
secreto, entre o penitente e o sacerdote. Esta nova prática previa a
possibilidade da repetição e abria assim o caminho a uma frequência regular
deste sacramento. Permitia integrar, numa só celebração sacramental, o perdão
dos pecados graves e dos pecados veniais. Nas suas grandes linhas, é esta forma
de penitência que a Igreja tem praticado até aos nossos dias.
1448. Através das mudanças que a
disciplina e a celebração deste sacramento têm conhecido no decorrer dos
séculos, distingue-se a mesma estrutura fundamental. Esta inclui dois elementos
igualmente essenciais: por um lado, os atos do homem que se converte sob a ação
do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e a satisfação: por outro,
a ação de Deus pela intervenção da Igreja. A Igreja que, por meio do bispo e
seus presbíteros, concede, em nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e fixa
o modo da satisfação, também reza pelo pecador e faz penitência com ele. Assim,
o pecador á curado e restabelecido na comunhão eclesial.
1449. A fórmula de absolvição, em uso
na Igreja latina, exprime os elementos essenciais deste sacramento: o Pai das
misericórdias é a fonte de todo o perdão. Ele realiza a reconciliação dos
pecadores pela Páscoa do seu Filho e pelo dom do seu Espírito, através da
oração e do ministério da Igreja:
Deus,
Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o
mundo consigo e enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te
conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E Eu te absolvo dos teus
pecados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.
MOPD Daniel 9,1-19