Vamos mergulhar no mistério da redenção da
humanidade mediante a Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Por ser mistério, é muito profundo. Quanto mais conhecemos, mais temos
para conhecer.
Ao morrer crucificado, o Filho de Deus sofreu
a morte da forma mais humilhante e dolorosa que havia naquele tempo. Torturado
e coroado de espinhos, padeceu na cruz até não resistir mais... Então deu um
forte grito: “Pai, nas tuas mãos eu entrego o meu espírito”. Dizendo isso,
expirou.” (Lc 23,46)
A morte de cruz foi o cume de toda a sua vida
oferecida ao Pai pela salvação da humanidade. “Amando os seus, amou-os até o
fim!” O Senhor Jesus bebeu o cálice amargo da nossa redenção e sofreu no seu
corpo as piores maldades que o pecado do homem já foi capaz de inventar.
1Pd
2,22 Ele não cometeu nenhum pecado e mentira nenhuma foi encontrada em sua
boca. 23 Quando insultado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava. Antes,
depositava sua causa nas mãos daquele que julga com justiça. 24 Sobre o madeiro
levou os nossos pecados em seu próprio corpo, a fim de que nós, mortos para
nossos pecados, vivêssemos para a justiça. Através dos ferimentos dele é que
vocês foram curados, 25 pois estavam desgarrados como ovelhas, mas agora
retornaram ao seu Pastor e Guardião.
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Mas, por que Jesus morreu?
-
Deus poderia salvar o homem de outra forma que não fosse pelo sacrifício
cruento da Cruz?
Quando Adão e Eva pecaram, toda humanidade se
tornou culpada diante de Deus.
Rm 3,11
Não há homem justo, não há um sequer. 12 Todos se desviaram, e juntos se
corromperam; não há quem faça o bem, não há um sequer. 23 Todos pecaram e estão
privados da glória de Deus.
Rm 5,19
Pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores.
A virtude da justiça consiste em dar ao outro
aquilo que lhe é devido. Ela é necessária para manter a ordem e a paz. Por isso
há um senso de justiça na criatura humana que pede, por exemplo, que o
assassino seja punido segundo as leis civis. O senso de justiça emerge dentro
de nós como algo constitutivo do nosso ser, de modo que temos na consciência o
princípio ético universal de que devemos ser justos e que a justiça faz bem e é
necessária.
Quando uma mãe castiga o filho, ela está
sendo movida pelo senso de justiça e pensando no bem do próprio filho. Justiça
nesse sentido é completamente diferente de vingança e de brutalidade. Trata-se
de dar ao outro o que lhe é devido, em vista do seu próprio bem ou da
humanidade em geral.
Deus criou o homem num estado de justiça e
santidade originais. Concedeu a ele todas as graças e meios para viver feliz na
sua companhia. O homem só não poderia ser orgulhoso ao ponto de querer viver
sem a sua Graça e sem obedecer a sua Lei. Deus ordenou ao homem: “Você pode
comer de todas as árvores do jardim. Mas não pode comer da árvore do
conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, com certeza você
morrerá” (Gn 2,17). Porque no plano do ser, Criador é Criador e criatura é
criatura, e não pode ser diferente. Um exemplo simples, mas certeiro: O
inventor da máquina de lavar roupas estabeleceu leis para ela funcionar bem.
Caso o consumidor faça o contrário do que foi posto por escrito no manual de
uso, a máquina “morrerá”, simples assim. O homem preferiu dar ouvidos ao Diabo
e não ao seu Criador. Foi ignorante, ingrato e desobediente. Sua natureza foi
ferida pelo pecado e o mal entrou na história da humanidade.
Rm 5,12
Assim como o pecado entrou no mundo através de um só homem e com o pecado veio
a morte, assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram.
Deus não tem justiça. Ele é Justiça. “Em Deus
o poder e a essência, a vontade e a inteligência, a sabedoria e a justiça são
uma só e mesma coisa” (Santo Tomás de Aquino). Por isso, “se lhe formos infiéis,
ele permanece fiel, pois não pode renegar a si mesmo” (2Tm 2,13). Diante do
Tribunal da Justiça Divina o homem pecador tornou-se um criminoso que merece
ser condenado e pagar pelo seu crime. Matar alguém é uma grande ofensa contra o
Amor e a Verdade. Mas um filho matar a própria mãe, a ofensa é muito maior
ainda. De igual forma, o pecado cometido contra Deus foi uma ofensa enorme,
gerou uma culpa infinita, tão grande que homem algum sobre a face da terra
conseguiria pagar a pena devida ao pecado e reparar a ofensa feita a Deus.
No Antigo Testamento o homem deveria cumprir
toda Lei de Moisés e oferecer sacrifícios expiatórios de animais para ser
salvo. Porém, provou-se ao longo dos séculos que o homem nunca conseguiu
cumprir a Lei na sua totalidade, de modo que, em vez de salvação, a Lei
lembrava ao homem a sua condenação. Incapaz de cumprir toda Lei, e porque os
sacrifícios de animais eram insuficientes, por Justiça, o homem, todo homem
estava condenado ao inferno, à morte eterna. Só Deus poderia pagar a pena de um
pecado tão grande contra o próprio Deus.
Foi então que a Misericórdia de Deus entrou
em ação. Uma vez que é impossível eliminar os pecados com o sangue de touros e
bodes, o Filho de Deus disse ao Pai no seio da Santíssima Trindade:
Hb 10,5
Tu não quiseste sacrifício e oferta. Em vez disso, tu me deste um corpo. 6
Holocaustos e sacrifícios não são do teu agrado. 7 Por isso eu disse: Eis-me
aqui, ó Deus - no rolo do livro está escrito a meu respeito - para fazer a tua
vontade.
Hb 10,8
Primeiro diz: “Não queres e não te agradam sacrifícios e ofertas, holocaustos e
sacrifícios pelo pecado.” Trata-se de coisas que são oferecidas segundo a Lei.
9 Depois acrescenta: “Eis-me aqui para fazer a tua vontade”. Desse modo, Cristo
suprime o primeiro culto para estabelecer o segundo. 10 É por causa dessa
vontade que nós fomos santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo,
realizada uma vez por todas. 11 Cada sumo sacerdote se apresenta diariamente
para celebrar o culto e oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que são
incapazes de eliminar os pecados. 12 Jesus, porém, ofereceu um só sacrifício
pelos pecados e se assentou à direita de Deus.
Deus enviou o seu Filho Amado para pagar por
nossos pecados, pois o homem não conseguia pagar através do cumprimento da Lei
de Moisés e dos sacrifícios expiatórios de animais. Assim, Deus não caiu em
contradição, a sua justiça foi satisfeita e nos redimiu. Jesus se fez homem
para salvar o homem, dando a sua vida no seu lugar. Ele é o Cordeiro de Deus
que tira o pecado mundo.
Por ser Justo e Fiel, Deus não faz só o que é
certo, mas o que é melhor. Em Jesus Cristo a justiça de Deus é misericordiosa.
Por justiça o pecador deveria ser condenado. Mas Jesus foi misericordioso,
pagou pelo pecador e o justificou e absolveu da pena devida ao pecado. Assim
ele satisfez a justiça de Deus, que “não pode renegar a si mesmo” (2Tm 2,13).
Jesus é, ao mesmo tempo, a justiça e a
misericórdia de Deus na nossa vida. O Catecismo da Igreja ensina:
Ao
partilhar, no seu coração humano, o amor do Pai para com os homens, Jesus
“amou-os até ao fim” (Jo 13, 1), “pois não há maior amor do que dar a vida por
aqueles que se ama” (Jo 15, 13). Assim, no sofrimento e na morte, a sua
humanidade tornou-se instrumento livre e perfeito do seu amor divino, que quer
a salvação dos homens (470).
Com
efeito, Ele aceitou livremente a sua paixão e morte por amor do Pai e dos
homens a quem o Pai quer salvar: “Ninguém Me tira a vida. Sou Eu que a dou
espontaneamente” (Jo 10, 18). Daí, a liberdade soberana do Filho de Deus,
quando Ele próprio vai ao encontro da morte (471).
O resultado do pecado é o sofrimento tanto
para o pecador como para os seus semelhantes. Como Jesus é Santo, Justo e
Inocente – “nenhum pecado e mentira nenhuma foi encontrada em sua boca (1Pd
2,22) logo, os sofrimentos que padeceu não foram resultados dos seus próprios
erros, mas consequência dos pecados de toda a humanidade (Hb 12,3).
Deus sabia que quando enviasse o seu Filho
para salvar a humanidade, ele iria sofrer todos ataques do ódio e do mal. Por
isso, 700 anos antes de Jesus vir ao mundo o profeta viu o Servo Sofredor todo
desfigurado e flagelado, “transpassado por causa de nossas revoltas, esmagado
por nossos crimes”:
Is 53,1
Quem acreditou em nossa mensagem? Para quem foi mostrado o braço de Javé? 2 Ele
cresceu como broto na presença de Javé, como raiz em terra seca. Ele não tinha
aparência nem beleza para atrair o nosso olhar, nem simpatia para que
pudéssemos apreciá-lo. 3 Desprezado e rejeitado pelos homens, homem do sofrimento
e experimentado na dor; como indivíduo de quem a gente esconde o rosto, ele era
desprezado e nem tomamos conhecimento dele. 4 Todavia, eram as nossas doenças
que ele carregava, eram as nossas dores que ele levava em suas costas. E nós
achávamos que ele era um homem castigado, um homem ferido por Deus e humilhado.
5 Mas ele estava sendo transpassado por causa de nossas revoltas, esmagado por
nossos crimes. Caiu sobre ele o castigo que nos deixaria quites; e por suas
feridas é que veio a cura para nós. 6 Todos nós estávamos perdidos como
ovelhas, cada qual se desviava pelo seu próprio caminho, e Javé fez cair sobre
ele os crimes de todos nós. 7 Foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca;
tal como cordeiro, ele foi levado para o matadouro; como ovelha muda diante do
tosquiador, ele não abriu a boca. 8 Foi preso, julgado injustamente; e quem se
preocupou com a vida dele? Pois foi cortado da terra dos vivos e ferido de
morte por causa da revolta do meu povo. 9 A sepultura dele foi colocada junto
com a dos ímpios, e seu túmulo junto com o dos ricos, embora nunca tivesse
cometido injustiça e nunca a mentira estivesse em sua boca. 10 No entanto, Javé
queria esmagá-lo com o sofrimento: se ele entrega a sua vida em reparação pelos
pecados, então conhecerá os seus descendentes, prolongará a sua existência e,
por meio dele, o projeto de Javé triunfará. 11 Pelas amarguras suportadas, ele
verá a luz e ficará saciado. Pelo seu conhecimento, o meu servo justo devolverá
a muitos a verdadeira justiça, pois carregou o crime deles. 12 Por isso eu lhe
darei multidões como propriedade, e com os poderosos repartirá o despojo:
porque entregou seu pescoço à morte e foi contado entre os pecadores, ele
carregou os pecados de muitos e intercedeu pelos pecadores.
Esta profecia do Servo Sofredor nos ajuda a
mergulhar no mistério profundo do sofrimento redentor de Jesus.
Is 53,5
Ele estava sendo transpassado por causa de nossas revoltas, esmagado por nossos
crimes. Caiu sobre ele o castigo que nos deixaria quites; e por suas feridas é
que veio a cura para nós. 6 Todos nós estávamos perdidos como ovelhas, cada
qual se desviava pelo seu próprio caminho, e Javé fez cair sobre ele os crimes
de todos nós.
Mais do que sofrer as consequências negativas
dos pecados que ele mesmo nunca cometeu, Jesus sofreu em si mesmo o pecado da
humanidade: orgulho, maldades, violência, ódio etc. Ele carregou os nossos
pecados no sentido de que na sua santa humanidade o pecado do homem se fez
presente, não por um ato pessoal seu, mais no sentido de que Deus fez cair nele
o pecado dos outros, afim de que na sua santa humanidade este mesmo pecado
fosse lavado e perdoado. Desta forma, por nós, pela nossa justificação diante
de Deus, Jesus se fez maldito na cruz (Gl 3,13), como Cordeiro de Deus que tira
o pecado do mundo (Jo 1,29).
2Cor
5,21 Aquele que nada tinha a ver com pecado, Deus o fez pecado por causa de
nós, a fim de que por meio dele sejamos reabilitados (justificados) por Deus.
MOPD Isaías 53,1-12