PONTO
SEGUNDO
Particularidades
da morte de Nossa Senhora
1. Saudades
que Maria Santíssima teve de seu Filho
Mas
vejamos agora como se deu a sua feliz morte. Depois da Ascensão de Jesus
Cristo, ficou Maria no mundo para atender à propagação da fé. Por isso a ela
recorriam os discípulos do Salvador. Resolvia-lhes a Senhora as dúvidas,
confortava-os nas perseguições, animava-os nos trabalhos pela glória divina e
salvação das almas remidas. Mui voluntariamente se demorava na terra, entendendo
ser esta a vontade de Deus para o bem da Igreja. Mas não podia deixar de sentir
a pena de ver-se longe da presença e da vista de seu amado Filho, que subira ao
céu. “Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc
12,34). Onde alguém julga estar o seu tesouro e seu contentamento, aí estará
fixo o amor e o desejo de seu coração. Se, pois, Maria não amava outro bem
senão Jesus, estando ele no céu, no céu estavam todos os seus desejos. Taulero
escreve por isso: “A cela de Maria foi o céu, pois que, pelo afeto, lá fazia a
sua contínua morada. Sua escola foi a eternidade, porque vivia sempre separada
dos bens temporais. Seu mestre foi a Divina Sabedoria, pois operou sempre
segundo a luz divina. Seu espelho foi a divindade, porquanto não atendia senão
a Deus, para conformar-se sempre à sua vontade. Seu ornamento era a piedade, já
que estava sempre pronta a executar o divino beneplácito. Sua paz estava sempre
em unir-se toda com Deus. Em suma, o lugar e tesouro do seu coração era
unicamente Deus”. – Andava assim a Santíssima Virgem consolando o seu coração,
saudoso nessa dura separação, com o visitar, segundo se conta, os santos
lugares da Palestina, em que o Filho estivera em vida. Visitava amiudadas vezes
ora a manjedoura de Belém, onde o Filho nasceu; ora a casa em Nazaré, dentro da
qual ele viveu tantos anos esquecido; ora o horto de Getsêmani, onde iniciou a
sua Paixão; ora o pretório de Pilatos, onde foi flagelado; ora o lugar em que o
coroaram de espinhos. Mas com mais frequência visitava o Calvário, cenário da
morte do Filho, e o santo sepulcro, onde por último o deixou. E deste modo a
amantíssima Senhora e Mãe andava aliviando a pena do seu duro exílio.
Mas
isto não podia bastar para lhe contentar o coração, ao qual não podia a terra oferecer
perfeito repouso. Eis por que lhe eram contínuos os suspiros que enviava ao
Senhor, exclamando com Davi, mas com amor mais ardente: Quem me dera penas de
pomba para voar ao meu Deus e nele achar o meu repouso? Como o cervo suspira
pelos mananciais das águas, assim por vós suspira minha alma, ó meu Deus (Sl
41,2). Como o cervo ferido deseja a fonte, assim a minha alma, pelo vosso amor
ferida, meu Deus, vos deseja e por vós suspira. Ah! que os suspiros desta santa
rola não podiam deixar de penetrar o coração do seu Deus, que muito a amava.
“Ouviu-se a voz da rola em nossa terra” (Ct 2,12). Assim, não querendo o Senhor
diferir por mais tempo a consolação à sua amada Mãe, eis que lhe sossega as
saudades e a chama ao seu reino.
Os
escritores gregos citados por S. Afonso, nas linhas que se seguem, tiram sua
descrição dos Apócrifos, cuja preocupação era edificar o povo fiel. Suas
descrições são florações e enredos poéticos de duas verdades: da ressurreição
do corpo de Maria e da sua celeste glorificação. A lenda da reunião dos
apóstolos ao redor de Maria não é nem impossível nem inconveniente, observa um
grande teólogo da atualidade, Scheeben. Muito bem eles representam “as 12
estrelas que coroavam a mulher revestida do sol” (Nota do tradutor).
Referem
Cedreno, Nicéforo e Metafrastes, que o Senhor lhe enviou, alguns dias antes da
morte, o arcanjo S. Gabriel, que outrora lhe levara a mensagem de ser ela a
mulher bendita e escolhida para Mãe de Deus. Minha Senhora e Rainha, disse-lhe
o anjo, Deus já ouviu os vossos santos desejos e mandou-me a dizer-vos que vos
prepareis para deixar a terra, porque ele vos quer consigo no paraíso. Vinde,
pois, tomar posse do vosso reino, porquanto eu e todos aqueles santos cidadãos
vos esperamos e desejamos. A este feliz anúncio, que outra coisa faria a nossa
humilíssima e santa Virgem, senão concentrar-se ainda mais nas profundezas de
sua humildade? Que faria, senão repetir aquelas mesmas palavras que respondera
ao anjo, quando lhe anunciou a divina maternidade: Eis aqui a escrava do
Senhor? Ele por sua bondade me elegeu e fez sua Mãe; agora me chama ao paraíso.
Eu não merecia nem aquela, nem esta honra. Mas já que ele quer sobre mim
demonstrar a sua infinita liberalidade, aqui estou pronta a ir aonde me quer.
“Eis aqui a escrava do Senhor; cumpra-se sempre em mim a vontade de meu
Senhor.”
Maria
comunicou depois a S. João a grata notícia que acabara de receber. Imaginemos
com que ternura e dor ouviria esta nova, ele que por tantos anos, assistindo-a
como filho, gozara a celeste conversação desta Santíssima Mãe! Ela visitou de novo
os santos lugares de Jerusalém, despedindo-se deles com ternura, especialmente
do Calvário, onde o amado Filho deixou a vida. Retirou-se depois à sua pobre
casa, preparando-se para morrer. Durante todo esse tempo não cessavam os anjos
de visitar frequentes vezes a sua amada Rainha, consolando-se em saber que
brevemente a veriam no céu.
2. Presença
dos apóstolos
Referem
muitos autores, como André de Creta, João Damasceno, Eutímio, que os apóstolos
e também uma parte dos discípulos vieram das diversas partes, onde estavam
dispersos, reunindo-se no quarto de Maria, antes da sua morte. Ela, pois,
vendo-os reunidos na sua presença, começou a falar-lhes assim: “Por amor de
vós, e para ajudar-vos, meu Filho me deixou na terra. Agora já a santa fé se
acha espalhada no mundo, já o fruto da divina semente se acha crescido. Por
isso, vendo o meu Senhor que não é por mais tempo necessária minha presença na
terra, compadeceu-se da saudade que sinto em estar longe dele. Quer agora
atender ao meu desejo de deixar esta vida e ir vê-lo. Ficai, pois, vós a
trabalhar pela sua glória. Se vos deixo, não vos deixo com o coração; comigo
levarei e permanecerá sempre o grande amor que vos tenho. Vou ao paraíso rogar
por vós”. A esta dolorosa nova, quem poderá compreender quais fossem as
lágrimas e os lamentos daqueles santos discípulos, pensando que em breve tinham
de separar-se de sua Mãe? Então, chorando, todos começaram a dizer: “Então, ó
Maria, já quereis deixar-nos? É verdade que esta terra não é lugar digno e
próprio para vós, nem somos nós dignos de gozar a companhia de uma Mãe de Deus.
Mas lembrai-vos que sois a nossa Mãe. Vós fostes até agora a nossa mestra nas
dúvidas, a nossa consoladora nas angústias, a nossa fortaleza nas perseguições.
E como quereis agora abandonar-nos, deixando-nos sós, sem o vosso conforto, no
meio de tantas lutas? Perdemos já na terra o nosso Mestre e Pai, Jesus, que
subiu ao céu. Nós nos consolamos neste intervalo convosco, nossa amorosíssima
Mãe. Como, pois, nos quereis, também vós, agora deixar órfãos? Senhora nossa,
ou ficai conosco, ou levai-nos convosco!” – Assim nos descreve a cena S. João
Damasceno. – Não, filhos meus, respondeu com doçura a amorosa Rainha, não; o
que pedis não é segundo a vontade de Deus; contentai-vos de fazer o que ele de
mim e de vós tem disposto. Resta-vos ainda trabalhar na terra pela glória do
vosso Redentor, para completar a vossa eterna coroa. Deixando-vos, não vos
abandono. Pelo contrário, hei de socorrer-vos ainda mais com a minha intercessão
junto de Deus no céu. Ficai contentes! Recomendo-vos a Santa Igreja,
recomendo-vos as almas remidas. Seja este o derradeiro adeus e única lembrança
que vos deixo. Fazei-o, se me amais; trabalhai pelas almas e pela glória de meu
Filho. Porque um dia nos veremos de novo reunidos no céu, para jamais nos
separarmos por toda a eternidade.
Dito
isto, rogou-lhes que dessem sepultura ao seu corpo e abençoou-os. Ordenou a S.
João, como referem Nicéforo e Metafrastes, que depois de sua morte entregasse
duas vestes suas a duas virgens, que a tinham servido por certo tempo.
Terminado o que, decentemente se compôs sobre o seu pobre leitozinho, onde se
pôs com alegria a esperar a morte, e com ela o encontro do Divino Esposo. Pois em breve ele devia vir buscá-la
para conduzi-la consigo ao divino reino. Eis que já sente no coração um prazer
precursor da vinda do Esposo, que a inunda de uma imensa e nova suavidade.
Vendo
os santos apóstolos que Maria já estava próxima a sair deste mundo, renovando o
pranto, puseram-se de joelhos à roda do leito. Uns lhe beijavam os santos pés,
outros lhe pediam a bênção, alguns lhe recomendavam as suas particulares
necessidades. Todos, enfim, choravam copiosamente e sentiam o coração
transpassado de dor, porque tinham de separar-se para sempre, nesta vida, de
sua amada Senhora.
A
Mãe amantíssima de todos, entretanto, se compadece e procura consolá-los. A uns
promete o seu patrocínio, a outros abençoa com especial afeto, e anima outros
no trabalho da conversão do mundo. Especialmente chamou junto de si S. Pedro, e
como chefe da Igreja e vigário de seu Filho, a ele recomendou principalmente a
propagação da fé, prometendo-lhe uma especial assistência.
Mas
singularmente chamou S. João, o qual mais que todos sentia grande dor no
momento de separar-se daquela santa Mãe. E lembrando-se a gratíssima Senhora do
afeto e atenção com que este santo discípulo a servira, durante o tempo que
permaneceu no mundo depois da morte do Filho, lhe disse, com muita ternura:
João, agradeço-te toda a assistência que me tens prestado. Filho meu, fica
certo que não te serei ingrata. Se agora te deixo, vou rogar por ti. Fica em
paz nesta vida, até que nos tornemos a ver no céu, onde te espero. Não te esqueças
de mim; em todas as tuas necessidades chama-me em teu auxílio, que eu jamais me
esquecerei de ti, meu amado filho. Eu te abençoo e te deixo a minha bênção.
Fica em paz; adeus!
3. Maria
morre de amor para com seu Filho
Mas
já a morte de Maria está próxima. As ardentes chamas do amor divino já haviam
consumido quase todos os espíritos vitais. Eis que a celeste Fênix, no meio de
tanto incêndio, vai perdendo a vida. Revoadas de anjos baixavam à terra, como
em ato de estarem prontos para o grande triunfo com que deviam acompanhá-la ao
paraíso. Muito se consolava Maria com a visita daquela multidão de espíritos.
Mas não era completo seu consolo, por não ver aparecer o seu amado Jesus, que
era todo o amor do seu coração. Por isso frequentes vezes repetia aos anjos que
a vinham saudar: Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém, que, se encontrardes ao
meu amado, lhe façais saber que estou
enferma
de amor (Ct 5,8). Santos anjos, ó formosos cidadãos da Jerusalém celeste,
vindes em bandos consolar-me, e todos me consolais com a vossa amável presença;
eu vos agradeço. Mas vós todos não me contentais completamente, porque não vejo
ainda o meu Filho, meu único consolador: Idevos, se me amais, voltai ao paraíso
e dizei da minha parte ao meu querido que desfaleço e desmaio por seu amor.
Dizei-lhe que venha e venha depressa, porque sinto-me morrer com desejo ardente
de vê-lo.
Mas
eis que Jesus já vem buscar sua Mãe, para conduzi-la ao santo reino. Santa
Isabel de Schoenau viu o Salvador aparecer à sua Mãe agonizante, com a cruz na
mão. Deste modo queria demonstrar a glória especial que lhe resultara da
Redenção, tendo com a sua morte adquirido aquela grande criatura, que, por
séculos eternos, devia honrá-lo mais que todos os homens e que todos os anjos.
Gerson
é de opinião que o próprio Cristo Senhor subministrou a comunhão por viático a
Maria, dizendo-lhe amorosamente: Recebe, ó Mãe, das minhas mãos aquele mesmo
corpo que me deste. – E a Mãe, recebendo com maior amor aquela última comunhão,
entre os últimos suspiros lhe disse: Filho, nas vossas mãos recomendo o meu
espírito, recomendo-vos a alma, que vós criastes desde o princípio, rica de
tantas graças, e por singular privilégio preservastes de toda mancha de culpa.
Recomendo-vos o meu corpo do qual vos dignastes tomar carne e sangue. Recomendo-vos
estes meus queridos filhos (referia-se aos santos discípulos que a rodeavam).
Eles ficam aflitos com a minha partida. Consolai- os vós, que mais do que eu os
amais, e dai-lhes forças para fazerem prodígios pela vossa glória!
Chega,
finalmente, o termo da vida de Maria. Ouve-se, no quarto em que morre, uma
celeste harmonia, como narra o Pseudo-Jerônimo. Um grande esplendor ilumina o
aposento, conforme uma revelação feita a S. Brígida. Aos sons dessa harmonia,
aos clarões desse esplendor, compreenderam os apóstolos que era chegada a hora
do trânsito de Maria. Por isso renovaram as lágrimas e as súplicas, elevando as
mãos disseram todos a uma voz: Ó Mãe nossa, já ides para o céu e nos deixais.
Dai-nos a derradeira bênção e não vos esqueçais de nós, miseráveis. – Mais uma
vez volve Maria os olhos para todos, como por última despedida e diz-lhes:
Adeus, meus filhos, eu vos abençoo; ficai certos de que não me esquecerei de
vós. – E então veio a morte, mas sem as vestes do luto e da tristeza como vem
aos homens. Vem ornada de luz, circundada de alegria. Mas por que falamos em
morte? Digamos melhor, veio o amor divino cortar o fio daquela nobre vida. Uma
luz, que se vai apagando, bruxuleia, atira vivos lampejos e clarões, e depois
se extingue. Assim também a Virgem, formosa borboleta, convidando-a o Filho a
segui-lo, imersa na chama de sua caridade e no meio de seus amorosos suspiros,
dá um maior suspiro de amor, expira e morre. E deste modo aquela grande alma,
aquela formosa pomba do Senhor, se desprendeu dos laços desta vida e voou à glória
eterna, onde permanece e permanecerá Rainha por toda a eternidade.
Assim,
pois, deixou Maria a terra e está no céu. De lá a piedosa Mãe olha para nós,
que ainda estamos neste vale de lágrimas. De nós se compadece e nos promete o
seu auxílio, se o queremos. Roguemos-lhe sempre, pelos merecimentos de sua
santa morte, nos obtenha uma morte feliz. Peçamos-lhe até a graça de ser a
nossa morte num sábado, que é dedicado à sua honra, ou num dia da novena ou do oitavário
de alguma de suas festividades; se porventura for isso do agrado de Deus. Já
obteve a Senhora esse favor a tantos de seus servos, especialmente a S.
Estanislau Kostka, que conseguiu morrer no dia da sua gloriosa Assunção.
EXEMPLO
Este
santo jovem, tão dedicado ao amor de Maria, ouviu no primeiro dia do mês de
agosto uma conferência, que o padre Canísio fizera aos noviços da Companhia.
Aconselhou-lhes o santo pregador, e com muita insistência, que vivessem cada
dia como se fosse o último de sua vida, findo o qual lhes fosse preciso
comparecer perante o tribunal divino.
Terminada
a conferência, dissera Estanislau aos companheiros que aquele conselho era,
particularmente para ele, a voz de Deus, porquanto havia de morrer naquele
mesmo mês. Isto disse, ou porque Deus expressamente lho revelou, ou ao menos
por certo pressentimento do que ia acontecer.
Quatro
dias depois foi o santo jovem com o padre Emanuel de Sá visitar a igreja de S.
Maria Maior. Em caminho discorreu sobre a próxima festa da Assunção e disse:
Padre, creio que nesse dia se vê um novo paraíso, no paraíso, contemplando-se a
glória da Mãe de Deus, coroada Rainha do céu e colocada tão próxima ao Senhor,
sobre todos os coros dos anjos. Dizem que em cada ano se renova esta festa no
céu.
Creio
nisso e espero que verei a primeira que lá se fizer. Segundo uma aceitável
narração, nesse mesmo dia Estanislau escreveu uma carta à sua querida Mãe do céu,
na qual lhe pedia a graça de assistir à celebração de sua festa no paraíso.
Tocando-lhe então por sorte o glorioso mártir S. Lourenço, como protetor do mês
(segundo o uso da Companhia), comungou no dia de sua festa e depois suplicou ao
Santo que apresentasse a carta à Mãe de Deus, e intercedesse por ele para um
favorável despacho da mesma.
No
fim desse mesmo dia veio-lhe a febre e, embora fraca, deu-lhe contudo como
certa a graça pedida quanto a uma próxima morte. Com efeito, ao deitar-se na
cama, disse muito alegre e risonho: Daqui não me levantarei mais. E ao padre
Cláudio Aquaviva acrescentou: Meu padre, creio que S. Lourenço já me obteve de
Maria a graça de me achar no céu pela festa de sua Assunção. Mas ninguém ligou
importância às suas palavras.
Na
vigília da festa o mal continuava a parecer leve. Disse, contudo, o Santo a um
irmão, que morreria na noite seguinte. Ao que este respondeu: Ó irmão, maior
milagre seria morrer, do que sarar de um mal tão insignificante. Entretanto,
eis que, passada a meia noite, caiu o Santo num desfalecimento mortal, começando
a suar frio e a perder as forças. Acudiu o Superior, a quem Estanislau rogou
que o mandasse pôr sobre o chão, para morrer como penitente. Isto se lhe concedeu
para o contentar e foi posto no chão sobre uma coberta.
Depois
confessou-se e recebeu o viático, não sem comover até às lágrimas os
assistentes. Ao entrar no quarto o Santíssimo Sacramento, viram estes o Santo
jovem todo radiante de celeste alegria nos olhos, e o rosto todo ruborizado nas
chamas de um santo amor, que até parecia um serafim. Recebeu também a
Extrema-Unção e entrementes nada fazia senão levantar os olhos ao céu, e ora
contemplar, ora beijar e apertar contra o peito amorosamente uma imagem de
Maria. Perguntou-lhe um padre: De que vos serve nas mãos este rosário, se o não
podeis recitar? Serve para consolar-me – responde o Santo – pois é uma coisa que
pertence à minha Mãe. Se assim é, tornou-lhe o padre, quanto maior será vossa
consolação, vendo-a e beijando-lhe em breve as mãos, no céu!
Então
o santo, com o rosto todo inflamado, levantou as mãos para o céu, exprimindo
assim o desejo de achar-se na presença de Maria. Apareceu-lhe depois essa querida
Mãe como ele mesmo disse aos circunstantes. E pouco depois ao amanhecer do dia
15 de agosto, expirou como um bem-aventurado, com os olhos fitos no céu, sem
fazer movimento algum.
Tendo-lhe
alguém apresentado a imagem de Maria e notando que ele não se interessava mais
por ela, conheceram os presentes que Estanislau passara desta à melhor vida no
céu. Já havia partido para ir beijar os pés de sua Rainha no paraíso.
ORAÇÃO
Ó
dulcíssima Senhora e Mãe nossa, já deixastes a terra e chegastes ao vosso
reino, onde imperais como Rainha sobre todos os coros dos anjos, segundo canta
a Santa Igreja. Bem sabemos que nós, pecadores, não éramos dignos de possuir-vos
conosco, neste vale de lágrimas. Mas sabemos também que, no meio de vossas
grandezas, não vos esquecestes de nós, miseráveis, e que, por terdes sido
sublimada a tanta glória, não perdestes, antes aumentou em vós a compaixão para
com os pobres filhos de Adão. Do trono excelso em que reinais, volvei-nos ó Maria,
os vossos piedosos olhos, e tende compaixão de nós. Lembrai-vos que, ao deixar
esta terra, prometestes que não nos havíeis de esquecer. Olhai para nós, e socorrei-nos.
Vede no meio de quantos perigos e tempestades nos achamos e acharemos até ao fim
da nossa vida. Pelos merecimentos de vosso bem-aventurado trânsito,
alcançai-nos a santa perseverança na amizade divina, para sairmos enfim desta
vida na graça de Deus. Desse modo iremos um dia beijar também vossos pés no
paraíso, unindo-nos aos espíritos bem-aventurados, para louvar-vos e cantar
vossas glórias, como mereceis. Amém.
Fonte: Glórias de Maria - Santo
Afonso Maria de Ligório
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