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Adoração - Kairós 2018 |
IV. SUA FÉ
A bem-aventurada
Virgem, assim como é Mãe do amor e da esperança, também é Mãe da fé. “Eu sou a
Mãe do belo amor, do temor e do conhecimento e da santa esperança” (Eclo
24,24). Acertadamente tal se chama, diz S. Ireneu, porque o dano que Eva com
sua incredulidade causou, Maria o reparou com sua fé. Palavra essa que
Tertuliano confirma, dizendo: Eva deu crédito à serpente, em oposição à palavra
de Deus, e com isso trouxe a morte; nossa Rainha, ao invés, crendo na palavra
do anjo, segundo a qual devia ser Mãe do Senhor e permanecer virgem, gerou ao
mundo a salvação. De acordo está com isso a seguinte sentença, atribuída a S.
Agostinho: Dando Maria seu consentimento à Encarnação do Verbo, abriu aos
homens o paraíso por sua fé. Identicamente exprime-se também Ricardo de S.
Vítor, com referência à palavra de S. Paulo: O marido infiel é santificado pela
mulher fiel (1Cor 7,7). É Maria, diz Ricardo, essa mulher fiel, porque com sua
fé salvou Adão e a toda descendência dele. Por causa desta fé, proclamou-a
Isabel bem-aventurada: “E bem-aventurada tu, que creste, porque se cumprirão as
coisas que da parte do Senhor te foram ditas” (Lc 1,45). Porque abriu seu
coração à fé em Cristo, é Maria mais bem-aventurada do que por haver trazido no
seio o corpo de Jesus Cristo.
1. Suárez
acentua que Maria tem mais fé do que todos os homens e anjos
Via o Filho na
manjedoura de Belém e cria-o Criador do mundo. Via-o fugir de Herodes, sem
entretanto deixar de crer que era ele o verdadeiro Rei dos reis. Pobre e
necessitado de alimento o viu, mas reconheceu seu domínio sobre o universo.
Viu-o reclinado no feno e confessou-o onipotente. Observou que ele não falava e
venerou-lhe a infinita sabedoria. Ouviu-o chorar e o bendisse como as delícias
do paraíso. Viu finalmente como morria vilipendiado na cruz, e, embora outros
vacilassem, conservou-se firme, crendo sempre que ele era Deus. “Junto à cruz
estava a Mãe de Jesus” (Jo 19,25). Aqui observa S. Antonino: Maria ficou firme
na sua jamais abalada fé na divindade de Cristo. Em memória disso, explica o
Santo, é que no Ofício das Trevas se conserva uma única vela acesa. Com muito
acerto, S. Leão refere a Maria a seguinte passagem dos Provérbios: A sua
candeia não se apagará de noite (31,18). Vem a propósito agora o texto de
Isaías: Eu calquei o lagar sozinho, e das gentes não se acha homem algum comigo
(63,3). Comentando-o, observa S. Tomás: As palavras “homem algum” devem ser
acentuadas por causa da Virgem, cuja fé nunca vacilou. Assim Maria – conclui S.
Alberto Magno – exercitou a fé por excelência; enquanto até os discípulos
vacilaram em dúvidas, ela afugentou toda e qualquer dúvida. “Virgem da luz para
todos os fiéis” é título que lhe dá S. Metódio, justamente por causa dessa sua
inabalável e grande fé. S. Cirilo de Alexandria saúda-a como Rainha da fé
ortodoxa. A própria Santa Igreja atribui aos merecimentos de sua fé a
extirpação de todas as heresias. “Alegra-te, ó Virgem Maria, porque sozinha
extirpaste todas as heresias.” Dizem os Cânticos: Feriste o meu coração, minha
irmã, esposa minha, com um dos teus olhares (4,9). Na explicação de S. Tomás de
Vilanova os olhares de Maria foram a sua fé, pela qual se tornou tão agradável
a Deus.
2. Aqui nos
exorta S. Ildefonso a imitarmos Maria na fé
Mas imitá-la como?
A fé ao mesmo tempo é dom e virtude. E dom de Deus, enquanto é uma luz na alma.
E virtude, enquanto ao exercício que dela faz a alma. Assim a fé nos deve
servir de norma, não só para crer, senão também para agir. Por isso, diz S.
Gregório: Quem pôs a vida de acordo com a fé, esse crê de verdade. E escreve S.
Agostinho: Tu me dizes: eu creio; procede então segundo essa palavra e de fato
estás crendo. A prova de uma fé viva é viver conforme o que se crê. “O meu
justo vive da fé” (Hb 10,38). Assim foi a vida da Bem-aventurada Virgem, bem
diferente da de muitos que vivem de modo oposto ao que creem. Destes é morta a
fé, como diz S. Tiago. “Porque assim como sem o espírito o corpo está morto,
morta é a fé, sem as obras” (2,26). Diógenes andava procurando um homem, na
terra. Assim também parece que Deus anda procurando um cristão, no meio de
tantos fiéis. Com efeito, poucos são cristãos pelas obras. A maior parte dos
homens só o é de nome. Dever-se-iam repetir-lhes as palavras de Alexandre a um
seu homônimo e covarde soldado: Muda ou de nome ou de vida! Ou antes
(segundo o Padre Mestre Ávila) se deveriam encerrar esses infelizes como loucos
numa prisão. Pois eles creem que há uma eternidade feliz preparada para os
bons, e uma infeliz para os maus, e entretanto vão vivendo como se não cressem
em tal doutrina.
Exorta-nos S.
Agostinho a vermos as coisas com olhos cristãos, isto é, à luz da fé. S. Teresa
dizia que todos os pecados nascem da falta de fé. Peçamos, pois, à Santíssima
Virgem que, pelos merecimentos de sua fé, nos alcance uma fé viva. Senhora,
aumentai a nossa fé!
Trecho extraído do
livro Glórias de Maria de Santo Afonso Maria de Ligório.
São 10 as virtudes
de Maria destacadas por Santo Afonso. Continua no próximo artigo.
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