“Cada geração é inédita e é preciso detectar seus problemas e
valores.”
“Cada sociedade constitui o jovem à sua própria imagem.”
Estudar as tendências da juventude implica tríplice
olhar. Num primeiro momento, registra-se como ela se comportou em idos passados
não muito remotos para não se perder em considerações distantes. Num segundo
momento, observa-se como ela procede no presente. E, num terceiro momento,
deixa-se ao leitor jovem comprovar, em sua vida, a verdade de tal análise e aos
adultos a maneira como reagir positivamente em face dela.
1.
Tendências pessoais
A medicina, a psicologia, a pedagogia têm
constatado um deslocamento significativo no desenvolvimento físico, psíquico e
espiritual dos jovens. Antes, o físico e o psíquico caminhavam a passo lento.
Assim, não se percebia nenhuma dissonância. À medida que cresciam fisicamente,
sentiam-se maduros para as tarefas que se lhes surgiam. Assumiam com
responsabilidade já na adolescência compromissos na família, na escola e até mesmo
no trabalho precoce.
Um conjunto de fatores, desde a melhor alimentação,
maior cuidado médico e fisioterapêutico com o corpo, ao lado de uma cultura que
propõe a juventude como fase de vida a ser prolongada o máximo possível, tem-se
observado, resultando em corpos vigorosos e fortes um psiquismo frágil com menor
capacidade de responsabilidade.
Tal defasagem tem-se manifestado de maneira explícita
no campo sexual. O desenvolvimento orgânico do corpo os faz varões ou mulheres
precoces quanto às pulsões sexuais, mas despreparados para lidar com os desejos
e as solicitações do ambiente. Antes, os jovens se preparavam lentamente para o
amor, com reserva em face do sexo. O amadurecimento do corpo acompanhava o
processo psicológico. Atualmente, os encontros afetivo- sexuais se fazem intensos
e descomprometidos. Não raro, já no primeiro encontro, sem conhecimento entre
si, sem nenhuma preparação humana, eles “ficam” até a relação sexual, sem
perspectiva de continuidade.
A simples substituição da palavra namorar para
“ficar” denota a mudança. Namorar implica relações que se constroem lenta e progressivamente.
“Ficar” explode e termina logo. Daí a multiplicação dessas experiências com
diferentes pessoas sem real envolvimento entre os parceiros.
A psicologia distingue na juventude dois dinamismos
complementares em sadia tensão. O dinamismo projetivo move o jovem a sonhar com
o futuro. Ele imagina situações, não raro idealizadas, a ser vividas amanhã.
Elas lhes oferecem energia para suportar as agruras do presente. Durante o
Governo Militar ditatorial no Brasil de 1964 a 1985, jovens arriscaram a vida e
a perderam em lutas idealistas por um país sem repressão, livre, socialista
(Betto, 1982; Gabeira, 1980; Syrkis, 1981; 1985). A dimensão projetiva manifestou-se
em grau maior.
O dinamismo explorativo volta-se para o
presente. Busca exauri-lo ao máximo. O futuro se esfuma. O idealismo cede lugar
para a busca sôfrega de experiências momentâneas. No momento atual, predomina nos
jovens a dimensão explorativa sobre a projetiva. Vivem mais do presente que do futuro.
Cansaram-se e se desiludiram de causas pelas quais se empenharam ontem. As
causas atuais gozam de menor força de atração. No campo católico, o idealismo
se direciona aos novos movimentos eclesiais. Ele não primam por ofertas de
transformação social, mas por vida moral e religiosa de ações concretas e sem
perspectiva de futuro.
O universo dos jovens situa-se diferentemente em
face da tradição. A geração anterior conheceu líderes importantes que lhes
ditavam palavras de ordem às quais davam adesão. Os mais velhos lhes serviam de
referência. A tendência presente vai na direção oposta. Importa a própria
experiência pessoal, autônoma até tocar as raias do narcisismo. Por isso,
preocupam- se antes com momentos felizes, fugazes, sem preocupação com as
consequências,
em
vez de ater-se à busca de felicidade sólida, permanente e comprovada pela
experiência dos maiores.
Por prenderem-se menos às tradições, despojam-se
com maior facilidade de preconceitos e tabus criados pelas gerações anteriores.
Assim, assumem atitude toleranteem face de comportamentos sexuais diferentes. Não
temem aventurar-se por experiências- limites no campo sexual e de grupos de
risco. Não poucos tentam incursões no mundo da droga e práticas sexuais
divergentes, mesmo que não pensem tornar-se dependentes químicos ou praticantes
de tal tipo de sexualidade. Veem tais comportamentos com naturalidade.
Ainda nesse campo da sexualidade, a postura
machista com forte acento na distinção sexual e na supremacia do masculino cede
lugar para o esmaecimento das diferenças sexuais e para a crescente
autoconsciência da mulher.
No comportamento psicológico, há mudanças na
transparência afetiva. A geração anterior se comportava de maneira recatada na
expressão da própria intimidade, especialmente no que tocava à vida sexual. Não
fazia facilmente confidências. A cultura pós-moderna produz profunda transformação.
Torna facilmente públicos comportamentos estritamente pessoais. O programa Big
Brother, tão badalado, significa a sua expressão escandalosa e extremada.
Acrescente- se a entrada dos meios virtuais em que, ora protegidos por
pseudônimo, ora sem a inibição do real, jovens expõem o corpo e as experiências
de maneira provocante e sem recato. Está aqui um ponto que merece atenção e
cuidado por parte de pais e educadores. Tal exposição despudorada tem gerado a
banalização e futilização do próprio corpo, do sexo, de relações, por
natureza,
íntimas.
Esconde-se nesses comportamentos outra tendência
forte nos tempos pós-modernos. J. Cl. Guillebaud (1999) definiu-a como “tirania
do prazer”. Esquece-se a moderação necessária na vivência do prazer embarca-se
em crescente intensificação pela via das drogas e pela exacerbação de práticas sexuais.
Considera-se tudo como algo normal, fácil e sem medos, nem fantasmas.
A partir das movimentações da década de 60, os
jovens tomaram a palavra, na famosa expressão de M. de Certeau (1968). E
agora
não querem abrir mão dela. Não aceitam ser como os jovens de antanho, que
ouviam muito e falavam pouco. Agora, pretendem ser ouvidos na família, na
Igreja, na sociedade. Buscam espaços para participar, falar, dizer o que sentem
e vivenciam. Sabem-se diferentes dos adultos. E não se intimidam diante deles.
Pelo contrário, batalham por seus valores, visão de mundo, perspectivas
existenciais. Agitam os espaços tranquilos.
2.
Tendências na vida escolar e acadêmica
A Escola tradicional educava os alunos para
aprender o que se ensinava. Fazia-se nítido corte entre o ensinar e o aprender.
Do lado do professor, vinha o ensinar. Tocava aos estudantes aprender.
Lentamente a pedagogia iniciou um processo de encurtar tais distâncias, valorizando
cada vez mais a liberdade, a iniciativa, a criatividade dos alunos. Adentra-se
na tendência da modernidade de
valorização
da autonomia, da subjetividade em contraste com a submissão à autoridade e às
tradições dos maiores.
Mais diretamente sobre a educação, surgem correntes
que, de diferentes pontos de vista, valorizam o sujeito. C. Rogers acentua as
abordagens centradas na pessoa de caráter não diretivo (Rogers, 1970a; 1970b;
Rogers e Kinget, 1969). Aposta no sujeito, no núcleo básico de cada pessoa
humana. Entende o educador como quem, pela via da empatia, pela compreensão, pela
capacidade de perceber o outro nele mesmo e amá-lo, por relação de mútua
confiança, leva o aluno a encontrar o próprio caminho, a resposta a seus
problemas e a descobrir e atualizar o seu potencial de crescimento.
No Brasil, a pedagogia conscientizadora e libertadora
de Paulo Freire reforça o valor do sujeito que extrojeta o dominador que o
habita para encontrar a si mesmo na sua dignidade e singularidade. Opõe-se à
educação bancária pelo processo de conscientização (Freire, 1975, 1982).
A pedagogia de J. Piaget colabora também nessa
linha de mostrar os estágios por que passam as crianças e de elas mesmas
construírem a si mesmas. Elas aprendem a partir do que são. Cabe aos
professores aperfeiçoarem o processo de descoberta dos alunos.
Enfim, a Escola Nova se foi implantando, gerando
nova geração de crianças, adolescentes e jovens (Wikipédia). Supera-se então a posição
do professor que dita e do aluno que copia e repete. Fala-se de construção do
conhecimento por parte do aluno, salientando a relação dialética entre o
sujeito e objeto. Nenhum dos lados sozinho constrói o conhecimento. O
construtivismo consagrou-se nesse campo (Nogueira, Pilão, 1998). Nesse
horizonte cultural, vive uma juventude que deixa para trás a pedagogia de aprender
o ensinado para assumir posição crítica e cada vez menos interessada no simples
aprendizado. Adquire-se o valor da autonomia, mas, sem dúvida, paga-se enorme preço
de não assimilar riquezas da tradição. Impõe-se, portanto, a criação de
pedagogia crítica dialética no sentido de olhar o ensinado sob o ângulo da
positividade e da negatividade. O fato de passar conhecimentos feitos reflete a
ambiguidade de todo ensino. Não valem eles pela força da autoridade e por si
mesmos. Nisso a tendência atual mostra-se positiva em opor-se à educação
bancária. No entanto, a tradição anterior comunica experiências acumuladas de
valor, cuja rejeição, pelo simples fato de ser transmitida, se torna lastimável.
A nova geração empobrece.
Nessa mesma direção, percebe-se a tendêncian de
rejeitar toda disciplina da Escola, anterior ao aval dos alunos. A experiência de
Summerhill quis visibilizar uma Escola em que os alunos decidissem totalmente sobre
o seu modo, ritmo, vida (Wikipédia b). Houve ganhos nessa tentativa, mas
pulularam os desvios e exageros. Sem dúvida, caminha-se para maior participação
dos alunos na configuração da vida acadêmica, sem cair no extremo de eles serem
o principal e até mesmo único protagonista. O movimento vai mais na linha de
aumentar o peso decisório dos alunos.
Entre inúmeros fatores que marcam a mudança no
campo da formação intelectual, acadêmica, há deslocamento significativo
referente ao tipo de leitura e de escrita. Tem-se manuseado menos os livros e
romances clássicos das diversas literaturas, que outrora formavam a
inteligência dos estudantes, para a crescente curiosidade de manipular o
universo da informação. Vivemos afogados em excesso de dados fornecidos pelos
programas de busca que abundam na Internet.
Com isso, passa-se de uma cultura em que se
aprendiam a escrita e a fala estabelecidas para a nova escrita da Internet e
modo
juvenil
de falar. Nota-se sensível mudança na linguagem escrita e falada da atual
geração, influenciada pelos meios de comunicação. Trava-se discussão entre os
pedagogos e linguistas. Uns aceitam essas transformações sem mais, apelando
pela regra fundamental de uma língua ser viva e estar em contínuas transformações.
Outros batalham pela conservação de cânones gramaticais. A realidade caminha na
direção da gigantesca modificação das regras do falar e escrever.
3.
Tendências nas relações humanas
Na
família
Ao entrar no universo das relações na família,
desloca-se da família estruturada em que os filhos se encontravam normalmente com
os pais para a em que apenas se relacionam. Pois ela sofre da ausência dos membros
em atitudes múltiplas e diversificadas, da fragmentação, da dissolução dos laços
familiares, de recasamentos, cujos filhos oscilam onde morar. Nas famílias em
que a relação familiar se mantém, a mudança acontece na postura dos filhos em
relação aos pais. Em lugar da antiga distância e respeito reverencial,
vivencia-se relacionamento mais próximo de “amigão”. Assim, os papéis de pai e
filhos, antes bem definidos, agora se confundem.
O desejo de autonomia e independência dos
filhos, manifestado no deixar a casa paterna no início da maturidade, mantendo,
porém, vínculos de fato, cede lugar para uma vida autônoma, sem vínculos. No
entanto, eles prolongam a permanência física na casa dos pais, retardando
constituir família, sem por isso deixar de manter relações afetivo-sexuais com
um(a) companheiro(a).
Perdeu-se a concepção romântica do matrimônio para
a compreensão realista e pragmática. Cresce o número daqueles jovens que evitam
filhos para não se sentirem cerceados na liberdade para se dedicarem ao estudo,
a viagens e a experiências prazerosas.
Trabalho
e colegas
Quanto ao futuro profissional, assiste-se à
passagem tranquila e normal de uma sociedade, escola e casa que asseguravam a
disciplina e que ofereciam inserção no mundo do trabalho para a sociedade
anômala, sem lugar para os jovens, a gerar incerteza do futuro e trabalho cada
vez mais problemático, mesmo para quem possui curso superior.
Antes predominava convivialidade ampla com os
colegas e surge a busca de grupos e tribos afins. Os encontros reais cedem espaço
para o crescimento das relações virtuais por meio da Internet, e-mail, blogs,
fotologs, Orkut, MSN, Skype, webcam, YouTube, Twitter, Facebook,
torpedos, celular etc. Convivem no mesmo espaço e tempo, em vez de única idade
cultural, companheiros de várias idades culturais sob o impacto da globalização
massificante.
4.
Tendências no mundo cultural
Ainda mais significativas se mostram as tendências
culturais. A consciência ética, histórica e utópica das gerações da década de
60 esmaece em prol da acentuação extremada do presente. Os sonhos de futuro se
desfazem em nome do realismo de concentrar-se no prazer, cada vez mais intenso,
das aventuras do momento.
Tendência semelhante manifesta-se no campo da
verdade. Influencia os jovens o movimento atual de substituir a verdade pela beleza,
pela estética. O bonito vale mais do que o verdadeiro. Oculta-se facilmente a
verdade sob a aparência do belo. Com isso, também, as certezas perdem
importância com a relativização das verdades. Interessa mais ao jovem o que ele
acha de alguma coisa do que o que essa coisa é por ela mesma.
Em parte, tal nova maneira de pensar se origina
de posturas que os jovens adquirem em face das tradições, quer mantidas pelas instituições,
quer transmitidas pelos mais velhos. Relativizam-nas em nome da própria maneira
de vê-las, conhecê-las e senti-las. Afeta tal comportamento o fato de a
juventude de hoje, diferentemente da de antes, perder o sentido de
normatividade da natureza, substituindo-a pela tecnologia.
O mundo cultural atual tem produzido outras
tendências nos jovens. Em vez de se alimentarem da cultura tradicional
ocidental, fortemente marcada pela dualidade, predomina a busca de conciliação,
unidade, tolerância até certo monismo oriental. Isso não
impede,
porém, algo paradoxal. A procura do pensamento unificante vindo do Oriente choca-se
com o pesado sentimento de fragmentação que os afeta em todos os campos. Portanto,
tendência quase contraditória do sonho de um Todo harmônico e a experiência de
uma realidade feita aos cacos.
Perde-se a estabilidade que os tempos antigos
permitiam. Entra-se em vida agitada a provocar aventuras esporádicas no
tríplice campo do sexo, da violência e da droga até as raias do crime.
Indo mais fundo na cultura, percebe-se a
mudança na concepção de tempo e de lazer, antes ligada à natureza, para
crescente ocupação do tempo especialmente pela presença das ofertas lúdicas da
eletrônica. O próprio esporte tem adquirido formas crescentemente competitivas.
Enfim, assistimos à substituição dos silêncios
e dos sons da natureza pela crescente e permanente presença de músicas
barulhentas e ruidosas, potencializadas pelos recursos eletrônicos.
5.
Tendências no mundo religioso
Na experiência religiosa, a tendência se manifesta
paradoxalmente no processo de secularização com jovens cada vez mais alheios à
esfera religiosa ou em busca sôfrega de formas religiosas, gestadas no próprio Brasil
– Santo Daime, União do Vegetal e outras – ou vindas do Oriente, sem falar do
neopentecostalismo evangélico, das expressões carismáticas católicas. Parece
diminuir claramente o jovem tradicionalmente católico. Assim, a religião
institucional cede lugar para práticas religiosas
selecionadas conforme a necessidade e o gosto do momento.
Essa tendência repercute no gosto musical dos
jovens. Afastam-se da música tradicional religiosa para assumir novos ritmos. Tanto
no espaço católico como evangélico, toca-se e canta-se o Gospel, cuja raiz se
encontra na música cristã negra dos EUA. Por meio dela, se expressa a fé
individual e a comunitária.
Quer sob a forma secular ou neorreligiosa, na
concepção tradicional de Transcendência, percebida em sua consistência distinta
de nós, esfuma-se em insinuante imanentização. Perde- se na interioridade das
pessoas ou no cosmos a partir de mística ecológica panteísta.
Destarte, a espiritualidade vivida de maneira constante,
sólida, lenta e estruturada transforma-se em algo fulgurante, explosivo, breve,
de curto prazo, que prefere satisfazer a afetividade a oferecer alimento para o
crescimento na fé.
Tal deslocamento espiritual modifica a consciência
de culpa, de pecado. A juventude presente se sente cada vez menos marcada por ela.
Fala-se até mesmo de certa “nova inocência” que se manifesta em achar tudo tão
natural que a ideia de transgressão,
de
infração, desaparece. Esbarra-se num “vale-tudo”.
Quanto à participação ativa e comprometida na
Igreja, assistimos à passagem da pastoral da juventude de Ação Católica,
de
grupos em estilo de Cursilho, para a pastoral no interior dos novos movimentos
religiosos e de momentos quentes. A Igreja, que nos tempos de Ação Católica oferecia
aos jovens lugar próprio, sofre, no momento, certa hesitação e indefinição, sem
propostas para eles. Encara o desafio de responder à atual pluralidade de
expectativas.
6.
Tendências na sociedade e política
No campo da política, desloca-se da sociedade rural
e industrial com horizontes mais ou menos estáveis para a sociedade do conhecimento
altamente móvel, flexível. Os jovens se surpreendem, de um lado, provocados a
assumir cada vez maiores compromissos e, de outro, percebem que os canais de
participação se lhes fecham.
A sociedade moderna está para ser
profundamente questionada pela nova geração. Em face dela, os adultos buscam
frear-lhe o ímpeto transformador que atingira ponto alto nas revoltas de 1968.
Em certo momen-to, usaram-se os recursos da repressão militar violenta. Hoje,
intentam envolvê-la em crescente aburguesamento pela força do consumismo e da
sutil penetração dos meios de comunicação social. Manipulando os centros do
poder, eles têm domesticado imperceptivelmente os jovens, aprisionando-
-os
na busca fácil do prazer, da festa, das aventuras sem cunho político.
Então, tem-se visto que a juventude em grande
parte tem remetido para segundo plano a consciência crítica em face da
realidade social e que desposa os valores da competência, do sucesso no mercado
de trabalho.
Assim, caminha-se de uma juventude consciente e
fortemente politizada para uma que assume compromissos esporádicos e,
sobretudo, eventos festivos. A maneira despreocupada com a aparência exterior,
especialmente dos rapazes, mas também de moças engajadas politicamente, converte-se
no cultivo do corpo e da beleza externa. A juventude vinculada a ideais se faz
pragmática com ausência de práxis e de história.
Aquela juventude que viveu a glória dos EUA
com a vitória da 2ª- Guerra Mundial e considerou-os Meca da democracia,
desenvolveu, em dado momento, antiamericanismo militante, com slogans como
“Yankees, go home!” (“Americanos, voltem para casa!”). Agora, porém, por
razão da poderosa influência americana pela mídia, os jovens assimilam cada vez
mais a cultura americana, o seu way of life.
Conclusão
Aqui apontamos algumas tendências da juventude
nos dias de hoje. Seguimos de perto o que tratamos no nosso livro citado acima.
Além de artigos, em três momentos, preocupei-me com a pastoral da juventude em
que estava parcialmente engajado. Num primeiro momento, tentei analisar os
Encontros de Jovens que surgiram por ocasião da hegemonia do Movimento de
Cursilhos (Libanio, 1983).
Já em tempos de pós-modernidade, detive-me em
analisar a nova situação da pastoral da juventude (ibid., 2004). As
novidades da situação dominante impunham repensamento da presença junto aos
jovens. Esse artigo visa diretamente a outro livro situado na mesma perspectiva
da pós-modernidade, mas com a intenção de perceber as tendências que movem os
jovens (ibid., 2012).
Toda análise vale à medida que ela ilumina a
realidade escolhida. Fica para o leitor, como escrevemos na introdução, a
tarefa de verificar até onde o estudo presente lhe ilumina a realidade da
juventude de hoje. A perspectiva escolhida situa-se dentro da pastoral, isto é,
do agir da Igreja em relação à juventude. Os outros conhecimentos das ciências
humanas contribuem para melhor entender o jovem de hoje, sem nenhuma pretensão
epistemológica própria de cada uma das ciências. Aqui eles entram no espírito
da interdisciplinaridade, sem ares de especialização. As reflexões sobre “Para
onde vai a Juventude” cumprem sua finalidade, se elas ajudam os jovens e os que
com eles trabalham a encontrarem lucidez no próprio pensar e agir.
J.
B. Libanio, sj artigo publicado na revista Vida Pastoral • ano 54 • nº- 288, p. 15-22